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TECENDO A TEIA DA VIDA- I

  • Foto do escritor: Mariele Santos
    Mariele Santos
  • 17 de mai. de 2024
  • 3 min de leitura

Atualizado: 3 de ago. de 2024


 

@Kleber Dias.


No conto “A árvore da nevasca do verão”, presente no livro “A ciranda das mulheres sábias” de Clarissa Pinkola Estés, somos apresentados a uma poderosa metáfora sobre ancestralidade e resiliência.


A história narra a trajetória de uma imponente árvore, um choupo, da família Salicaceae, o choupo-branco é uma árvore de folha caduca, de crescimento rápido, que pode alcançar 25 m de altura. Possui um tronco branco com fissuras castanhas em forma de losango as quais, com a idade das árvores tendem a aumentar. Após séculos de existência é brutalmente derrubada por interesses imobiliários. A árvore, que resistiu a inúmeras intempéries e desafios ao longo de sua vida, é subitamente cortada e removida.


© Paula Côrte-Real



Clarissa descreve o conto:

"Conheci muitas árvores vigorosas nos bosques do norte onde passei a infância. Contudo, naquela época — como ocorre na vida das mulheres também — as grandes árvores eram repetidamente expostas a riscos por conta de rápidos esquemas de incorporação imobiliária.
Uma dessas árvores ameaçadas que conheci era uma enorme avó, um choupo. Essa árvore tinha sobrevivido por vários séculos a vários tipos de intempérie, inundação, congelamento e a todas as criaturas que queriam corroê-la.
Ela era o que chamávamos de “árvore da nevasca do verão” porque lançava suas sementes diminutas presas a uma reluzente penugem branca. Seria um equívoco imaginar que, por lançar suas sementes em saias cheias de babados, ela fosse frágil. Ela não era. Era uma guerreira.
Bem, um dia ela foi “descoberta” por um grupo de gente armada de serras de arco e machados. E então, ao longo de algumas semanas terríveis… sem nenhuma cerimônia ela foi picada e derrubada. Depois foi levada embora por um grande caminhão preto com uma chaminé.
E, como ocorre muitas vezes na vida de uma mulher, a conclusão era que ela tinha sido derrubada, e que agora esse era o seu fim. E alguns … podem ter dito: “já vai tarde”… No local onde antes ela tocava o céu, havia agora um espaço sinistro, um vazio, uma abertura escura que dava para lugar nenhum.
Ao longo do ano, começou a acontecer alguma coisa com aquele enorme cepo de choupo. O que restou do chão tinha mais de 1.80 m de diâmetro. O tempo passava.
E passava.
Então… teve início o que chamo de “um lento milagre”. Do cepo liso sobre o qual a árvore viva um dia se erguera, cresceram 12 rebentos a partir da velha árvore avó. Direto para o alto. Fortes. Ondulantes. Dançando numa roda. Em cima do cepo. Em torno de sua borda… 12 árvores que dançavam.
As árvores jovens que cresceram a partir do corpo do velho choupo eram obviamente suas filhas. Na mitologia, uma árvore dessas com sua prole às vezes é chamada de “árvore dos círculos das fadas”; espíritos que brotam do que parece estar morto… para dançar sem parar na alegria de uma nova vida".

Não há vida estática. Há vida que dança


Simbolizando um renascimento a partir do que aparentava estar morto, as “árvores dos círculos das fadas”, remete aos “círculos de fadas” da Namíbia, próximos à costa oeste da África, onde a vegetação rasteira cresce formando anéis regularmente distribuídos pela paisagem. Esses círculos são até hoje um dos maiores mistérios das ciências naturais. Na tradição popular, fenômenos naturais como esse são muitas vezes atribuídos a seres fantásticos, como dragões, duendes e fadas.


Estes padrões regulares têm intrigado aos cientistas há décadas. NORBERT JUERGENS.


Percebemos uma conexão profunda com a importância da ancestralidade e do resgate dos saberes tradicionais. Assim como as filhas que emergem do cepo da árvore, representando uma nova vida brotando da aparente morte, sobre o futuro reside na reconexão com as raízes, na valorização da natureza e na aprendizagem com os ensinamentos do passado.


@ Kleber Dias.


A ideia de que “não há vida estática, há vida que dança” ressoa com a visão de Krenak sobre a dinâmica e interconexão de todos os seres vivos, bem como sobre a importância de vivermos em harmonia com o mundo ao nosso redor.

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