SERÁ QUE A ADOÇÃO DE AÇÕES SUSTENTÁVEIS INDIVIDUAIS É SUFICIENTE PARA REVERTER A CRISE CLIMÁTICA?
- Mariele Santos
- 9 de nov. de 2023
- 3 min de leitura
Atualizado: 3 de ago. de 2024
“Custo de Não Fazer Nada” é um desafio pessoal, comunitário, governamental e internacional.
Fonte: Victória Lobo, 12 maio 2021.
Como o fenômeno El Niño afeta o clima em diferentes regiões do mundo e qual é a periodicidade desse evento climático?
O El Niño é um evento de origem climática que acontece por conta do aquecimento do Oceano Pacífico equatorial oriental e se manifesta em ciclos entre três e oito anos. Com antecedentes no século XIX, em 1924 o climatologista Gilbert Walker cunhou o termo “Oscilação do Sul” para identificar o fenômeno e em 1969 o meteorologista Jacob Bjerknes sugeriu que esse aquecimento incomum no Pacífico oriental poderia desequilibrar os ventos alísios e aumentar as águas quentes em direção ao leste, ou seja, em direção às costas intertropicais da América do Sul.
Apesar de três anos consecutivos de La Niña, fenômeno inverso ao El Niño que compensa parcialmente o aquecimento, o período 2015–2022 foi o mais quente já registrado. O superaquecimento dos oceanos, que continuam absorvendo 90% do excesso de calor provocado pela atividade humana desde o início da era industrial, tem um papel crucial no processo.
Desde abril, a temperatura média de superfície dos oceanos registra níveis de calor sem precedentes. “De 31 de julho a 31 de agosto, esta temperatura superou todos os dias o recorde anterior, de março 2016”, destacou o Copernicus, atingindo a marca simbólica inédita de 21°C, muito acima de todos os números registrados até então.
— O aquecimento dos oceanos leva ao aquecimento da atmosfera e ao aumento da umidade, o que provoca chuvas mais intensas e um aumento da energia disponível para os ciclones tropicais — alerta Burgess.
O superaquecimento também afeta a biodiversidade, uma vez que há menos nutrientes e oxigênio no oceano. Essa condição ameaça a sobrevivência da fauna e da flora.
Há uma conexão entre os eventos no RS e fenômenos em outras partes do mundo, como ondas de calor e enchentes?
De acordo com a maioria dos especialistas em clima, sim. As mudanças climáticas tendem a intensificar diversos tipos de fenômenos em escala global, principalmente devido ao aquecimento da atmosfera e dos oceanos. Isso resulta em ondas de calor mais intensas, como as observadas recentemente na Europa e nos Estados Unidos, onde ocorreu um incêndio florestal devastador no Havaí, o mais mortal em décadas. Além disso, vemos secas e enchentes, como as ocorridas recentemente na Espanha e Grécia. Esse novo padrão climático global aumenta até mesmo o risco de ondas de frio mais severas, embora mais curtas. Os Estados Unidos vivenciaram grandes nevascas no final do ano passado.
Será que a adoção de ações sustentáveis individuais é suficiente para reverter a crise climática?
Infelizmente, não. Embora ações sustentáveis individuais sejam importantes e necessárias, como o correto descarte de lixo, economia de energia e a redução do uso de combustíveis fósseis, especialistas acreditam que reverter o aquecimento global observado nas últimas décadas requer mudanças significativas nas fontes de energia e políticas públicas abrangentes para reduzir substancialmente as emissões de carbono na atmosfera. Isso exige o comprometimento de grandes empresas e governos, especialmente aqueles de economias importantes, como China, Estados Unidos e União Europeia.
Em contrapartida, em países em desenvolvimento, como o Brasil e outros, enfrentamos essas situações com notável falta de preparo. Os recursos públicos destinados à aquisição de equipamentos, serviços de resgate e comunicação são subutilizados. A diferença entre a vida e a morte frequentemente depende da responsabilidade do Estado, dos governos, da sociedade em geral e dos meios de comunicação, que têm a responsabilidade de priorizar a segurança pública, não apenas relatar tragédias após o ocorrido.
O que governos e organizações internacionais estão fazendo para enfrentar a crise climática?
Governos de países como Estados Unidos, China e países europeus estão implementando medidas para reduzir as emissões de carbono. No entanto, o ritmo e a escala dessas ações ainda são considerados insuficientes pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC). Na Europa, está sendo implementado o Pacto Verde, um conjunto de medidas em setores como energia, transporte e agricultura que visa transformar a Europa no primeiro continente a atingir a neutralidade climática até 2050, ou seja, emitir apenas a quantidade de gases que é absorvida.
A China, como o maior poluidor do mundo, comprometeu-se publicamente a descarbonizar sua economia, mas essa transição levará algum tempo. A China ainda está investindo em usinas de carvão e planeja atingir o pico de emissões de carbono até 2030, com a meta de alcançar a neutralidade climática em 2060. No entanto, o IPCC enfatiza que é necessário reduzir pela metade as emissões de gases de efeito estufa até 2030 para limitar o aquecimento global a 1,5°C acima dos níveis pré-industriais.
REFERÊNCIAS
Glaciologista Jefferson Cardia Simões (UFRGS), climatologistas Francisco Eliseu Aquino (UFRGS) e Lincoln Alves (Inpe), professora de meteorologia Eliana Klering (UFPel) e meteorologista Danielle Barros (Inmet).
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