DO AÇAÍ À INOVAÇÃO CLIMÁTICA: UNIVERSIDADES PÚBLICAS TRANSFORMANDO RESÍDUOS EM SOLUÇÕES SUSTENTÁVEIS
- Mariele Santos
- 26 de mar.
- 3 min de leitura
Como o açaí pode salvar o planeta? Universidades públicas transformam caroços em combustível verde.

O incentivo à pesquisa nas universidades mantém-se como um dos pilares essenciais para o desenvolvimento social, oferecendo aos estudantes oportunidades valiosas de contribuir com soluções inovadoras para a emergência climática.
No cenário atual das mudanças climáticas, destaca-se o trabalho pioneiro do professor Menyklen Penafort, docente do colegiado de Engenharia Química da Universidade do Estado do Amapá (UEAP) e pesquisador extensionista. Sua pesquisa foca na produção de bio-óleo derivado do caroço de açaí, um composto que vem sendo aprimorado como alternativa sustentável aos combustíveis fósseis, com aplicações promissoras tanto na produção de biocombustíveis quanto em compostos farmacêuticos.

O Potencial do Caroço de Açaí
Dentre os resíduos orgânicos com aplicação energética, o caroço de açaí apresenta características excepcionais. Originário da Amazônia, esse fruto possui safra sazonal (com período de colheita de seis meses anuais) e custo de produção reduzido. No processamento industrial, cerca de 80% da massa total corresponde ao caroço — sua principal biomassa. Atualmente, esse resíduo configura um grave passivo ambiental, devido à ausência de sistemas adequados para sua coleta, tratamento ou disposição final (GUERREIRO et al., 2017, p. 2).
Desafios e Oportunidades
O setor industrial enfrenta o desafio do volume crescente de resíduos, particularmente o caroço de açaí (Euterpe oleracea). Esse subproduto, de baixo valor comercial, costuma ser descartado inadequadamente em lixões após a extração da polpa. Sua composição bromatológica revela propriedades notáveis: representando aproximadamente 87% da massa do fruto, contém 53,20% de celulose, 12,26% de hemicelulose e 2,30% de lignina (RODRIGUES et al., 2006).
Processo de Transformação
A conversão desse material em bio-óleo ocorre mediante pirólise — um processo de decomposição térmica na ausência de oxigênio que gera produtos de elevado valor energético. O bio-óleo resultante apresenta diversas aplicações industriais, conforme explica o professor Penafort: “Temos um resíduo abundante e buscamos transformá-lo em bioenergia, biogás e até carvão ativado para tratamento hídrico, incluindo soluções para a salinização no Bailique”.


Projeto Gasolina Verde
Esta pesquisa integra o ambicioso projeto “Gasolina Verde”, coordenado pelo professor Nélio Machado da Universidade Federal do Pará (UFPA), que investiga também o potencial energético de outros resíduos amazônicos, como o caroço de tucumã. Os resultados desses estudos serão apresentados na 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP 30), marcada para novembro de 2025 em Belém, Pará.
Referências
RODRIGUES, J. P. Avaliação da produção de combustíveis em processo decraqueamento térmico do óleo de soja em regime contínuo. 2007. 61 f. Dissertação (Mestrado em Química). Instituto de Química, Universidade de Brasília, Brasilia, DF, 2007.
GUERREIRO, L. H. H. et al. Investigação do processo de destilação do bioóleo de sementes de açaí (Euterpe oleracea) obtido via pirólise em escala piloto. In: Química: Inovação e Empreendedorismo, 2017, Belém. Anais […]. Belém: [s.n.], 2017. p. 1–9. Disponível em: https://www.researchgate.net/publication/318958834. Acesso em: 26/03/2025.
MACHADO, N. T. (Coord.). Projeto Gasolina Verde: produção de biocombustíveis a partir de resíduos amazônicos. Belém: Universidade Federal do Pará, 2020–2023. (Projeto de pesquisa em andamento).
G1 PARÁ. Pesquisadores da UFPA desenvolvem “gasolina verde” a partir de caroços de açaí e tucumã. Belém: G1, 2025. Disponível em: https://g1.globo.com/ap/amapa/noticia/2025/03/20/bioleo-produzido-a-partir-do-caroco-de-acai-no-amapa-pode-ser-alternativa-ao-gas-e-petroleo.ghtml. Acesso em: 26/03/2025.
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