CIDADES-ESPONJA: INOVAÇÃO URBANA COMO ALTERNATIVA PARA EXTREMOS CLIMÁTICOS
- Mariele Santos
- 18 de jun. de 2024
- 3 min de leitura
Atualizado: 3 de ago. de 2024

Parque alagável de Qunli, na China, criado para reter, filtrar e devolver ao solo a água da chuva,Foto- Turenscape.
As cidades-esponja representam uma resposta inteligente e adaptativa aos desafios das mudanças climáticas, especialmente diante das enchentes que têm assolado o Rio Grande do Sul. Esse modelo inovador de infraestrutura urbana busca mitigar os impactos das chuvas intensas, convertendo os centros urbanos em áreas capazes de absorver e redistribuir a água pluvial de forma eficiente. Embora ainda não tenhamos no Brasil uma cidade completamente aderente a esse conceito, algumas localidades, como São Paulo, Niterói e Belo Horizonte, têm adotado técnicas de forma timida inspiradas nessa abordagem para lidar com as enchentes.
“Cidade-Esponja é um conceito de cidade sensível à água, remetendo à situação na qual a mesma possui a capacidade de deter, limpar e infiltrar águas usando soluções baseadas na natureza”, define um artigo publicado pelo Observatório de Inovação para Cidades Sustentáveis (OICS).
O OICS é uma plataforma virtual que mapeia e divulga conteúdos e soluções urbanas inovadoras em sustentabilidade, apoiada pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA). Essas cidades têm implementado iniciativas como jardins de chuva e áreas permeáveis, que visam absorver, armazenar e filtrar a água da chuva de maneira eficaz.
O objetivo das mudanças arquitetônicas e urbanísticas que fazem uma cidade entrar no conceito sustentável de “esponja” é encontrar soluções que ajudem a absorver as águas de chuva, seja em “áreas livres ou construídas”. A ideia é também recarregar os aquíferos e lençóis freáticos locais com essa água, bem como deixar o excedente de chuva escorrer para áreas possíveis de serem alagáveis. Os jardins de chuva, por exemplo, são projetados para captar e encaminhar a água pluvial para áreas ajardinadas, onde é absorvida pelo solo e posteriormente utilizada pelas plantas, reduzindo, assim, o volume de água que flui pelas ruas e rios.

À esquerda:Mostra como funcionam as áreas alagadas na hora de conter o excesso de água das chuvas. À direita Sem excesso de chuvas, noParque Jinhua Yanweizhou, na China, Foto- Turenscape.
A cidade-Esponja deve ser “projetada para funcionar como uma floresta: portanto, ela possui cobertura vegetal que sequestra carbono”. Além disso, uma Cidade-Esponja também se dedica à proteção e à introdução de biodiversidade para que sua estrutura funcione. Isso significa que áreas verdes com árvores e animais próprios podem surgir, contribuindo para a melhoria de outros aspectos essenciais para a qualidade de vida, bem-estar e atração de empresas da nova economia verde e criativa.
Para o criador do conceito de cidades-esponja, o arquiteto chinês Kongjian Yu, a resposta está em parar de “lutar contra a água” e investir em soluções duradouras e baseadas na natureza. O primeiro princípio adotado nos projetos de Yu é reter a água assim que ela toca o solo. Segundo Yu, isso pode ser alcançado por meio de grandes áreas permeáveis e porosas, não pavimentadas.

Parque Florestal Benjakitti, na Tailândia, Foto- Turenscape.
Da mesma forma que uma esponja com muitos orifícios, a cidade deve conter a chuva com lagos artificiais e áreas de açude alimentados naturalmente ou por canos que ajudam a escoar a água de rios e represas. Telhados e fachadas verdes, assim como valas com áreas verdes com camadas de solo permeáveis por baixo, também são usadas para esse propósito.
O modelo das cidades-esponja, inspirado em antigas tradições chinesas de gestão da água e agricultura, oferece uma alternativa sustentável e resiliente para a urbanização contemporânea. Adotando estratégias como grandes áreas permeáveis, lagos artificiais e telhados verdes, as cidades podem não apenas mitigar os impactos das enchentes, mas também promover a biodiversidade e melhorar a qualidade de vida dos seus habitantes. Implementar soluções baseadas na natureza é fundamental para enfrentar os desafios das mudanças climáticas e garantir um futuro mais sustentável.
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