A IA NAS OLIMPÍADAS DE PARIS 2024: ENTRE INOVAÇÃO E CONTROVÉRSIA
- Mariele Santos
- 7 de ago. de 2024
- 4 min de leitura
Atualizado: 6 de fev.
A importância da divulgação clara de que a IA deve ser vista como uma ferramenta e não como um substituto da criatividade humana não pode ser subestimada.

Os Jogos Olímpicos de Paris 2024 estão em destaque não apenas pelas performances excepcionais dos atletas, mas também pelo uso inovador e controverso da Inteligência Artificial (IA). Esta edição das Olimpíadas tornou-se um laboratório de experimentação tecnológica, graças à “Agenda Olímpica de IA” lançada pelo Comitê Olímpico Internacional (COI). O objetivo é integrar a IA de forma abrangente, promovendo eficiência, inclusão e inovação. No entanto, a presença da tecnologia também tem gerado debates sobre suas implicações éticas e sociais.
Uma das principais iniciativas do COI é a proteção dos atletas contra abusos online. Um sistema de IA foi implementado para monitorar e filtrar conteúdos prejudiciais em tempo real nas redes sociais. Embora esta tecnologia represente um avanço significativo na promoção de um ambiente digital mais seguro, ela também levanta questões sobre privacidade e o poder das máquinas em moderar o discurso público.


Na arena esportiva, a IA está redefinindo a análise de performances, especialmente na ginástica. O Judging Support System (JSS) utiliza câmeras e algoritmos para analisar os movimentos dos ginastas em tempo real, ajudando os juízes a tomar decisões mais precisas. Embora esta tecnologia prometa uma avaliação mais justa, ela também suscita dúvidas sobre o papel humano na arbitragem esportiva.
À medida que as máquinas assumem funções de julgamento, até que ponto os humanos são necessários no processo decisório? Além disso, a parceria entre a Olympic Broadcasting Ceremony (OBS) e a Omega utiliza IA para melhorar a precisão da cronometragem em vários esportes, o que, embora benéfico para a precisão, pode também reduzir a emoção e a imprevisibilidade das competições.
Os telespectadores dos Jogos Olímpicos de Paris 2024 estão desfrutando de uma experiência de visualização aprimorada graças à IA. A Alibaba, parceira oficial dos Jogos, oferece um serviço de multicâmeras alimentado por IA que garante replays de alta qualidade e imagens em 3D. Enquanto essa tecnologia eleva a experiência visual, ela também destaca a crescente dependência da tecnologia para criar experiências de entretenimento, levantando a questão: estamos sacrificando a autenticidade e a espontaneidade em nome da perfeição digital?

Além dos avanços, a IA nos Jogos de Paris também gerou controvérsias. O Google enfrentou críticas ao lançar um anúncio da ferramenta de IA Gemini, que foi retirado após reações negativas do público. O anúncio, que mostrava um pai usando a IA para escrever uma carta para sua filha, foi acusado de promover a dependência da tecnologia em detrimento da expressão pessoal humana. Esta situação ilustra a tensão crescente entre os benefícios prometidos pela IA e o medo de que ela sufoque a criatividade e a autenticidade humana.
Com informações do Ad Age, o Google decidiu parar de exibir o comercial “Dear Sydney” na televisão dos Estados Unidos após uma onda de críticas nas redes sociais. Embora o vídeo ainda esteja disponível no YouTube, os comentários foram desativados pela empresa. Desenvolvido internamente, o anúncio pretendia promover a plataforma de IA Gemini ao mostrar um pai ajudando sua filha a escrever uma carta para a velocista olímpica Sydney McLaughlin-Levrone.

No entanto, a escolha do pai de delegar à IA a tarefa de escrever a carta gerou uma avalanche de críticas. Muitas pessoas argumentaram que a campanha estava incentivando uma dependência excessiva da tecnologia, potencialmente atrofiando a capacidade das crianças de expressarem seus próprios sentimentos e pensamentos.
O comercial teve uma exibição significativa durante a cobertura dos Jogos Olímpicos pela NBCU, a emissora detentora dos direitos de transmissão nos Estados Unidos, além de ser veiculado em outros canais. Em resposta às críticas, o Google optou por retirar o anúncio gradualmente da programação, apesar de ter inicialmente defendido a peça como uma celebração autêntica do Time USA e uma demonstração do potencial criativo da IA.
Desde o avanço do ChatGPT (OpenAI), as gigantes tecnológicas têm implementado aplicações de alta velocidade que possibilitam a geração de textos, imagens e outros conteúdos de elevada qualidade, mediante utilização de linguagem do dia-a-dia. É essencial reconhecer que a IA, por mais avançada que seja, não possui emoções, intuições ou experiências pessoais que moldam a criatividade humana.

A IA pode gerar textos, imagens e até composições musicais, mas esses produtos são o resultado de algoritmos que processam dados e padrões, e não de um processo emocional ou intuitivo. A criatividade humana é intrinsecamente ligada à nossa capacidade de experimentar emoções, refletir sobre nossas experiências e expressar aspectos únicos de nossa subjetividade. A IA, por sua vez, é uma ferramenta poderosa para automatizar tarefas, otimizar processos e fornecer insights baseados em dados, mas nunca poderá substituir a profundidade emocional e a originalidade que caracterizam o trabalho humano criativo.
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