A ESTRUTURA ATUAL DOS CONFLITOS GERACIONAIS
- Mariele Santos
- 23 de mai. de 2024
- 3 min de leitura
Atualizado: 3 de ago. de 2024
Um Obstáculo Negligenciado nas Práticas de Governança

Imagem: Cleon Peterson
No contexto das práticas de ESG (Ambiental, Social e Governança), um dos desafios frequentemente negligenciados é o conflito entre gerações no ambiente de trabalho. Enquanto muitos focam nos aspectos ambientais e de governança, as questões sociais, especialmente relacionadas à interação intergeracional, muitas vezes ficam em segundo plano. Esses conflitos são multifacetados e impactam diretamente a produtividade das empresas, mas a crítica vai além: há uma significativa falta de preparo para lidar com questões sérias como assédio, preconceito e racismo, que permeiam os ambientes corporativos. Essas empresas frequentemente promovem uma cultura organizacional voltada para a mercantilização, sem clareza e profundidade nas suas políticas internas.

Imagem : Pixabay
Os conflitos geracionais afetam o clima organizacional de forma profunda, criando um ambiente de trabalho tenso e fragmentado. Segundo um estudo realizado pelas consultorias ASTD Workforce Development e VitalSmarts, um em cada três entrevistados afirmou que a empresa gasta 5 horas ou mais por semana gerenciando conflitos entre as gerações, o que resulta em uma perda de 12% na produtividade. Esse dado é alarmante, pois evidencia não apenas o desperdício de tempo e recursos, mas também o impacto negativo na moral e no engajamento dos funcionários.
Esses conflitos não surgem no vácuo; eles são exacerbados por práticas organizacionais inadequadas que não reconhecem ou abordam as diferenças de valores, expectativas e formas de trabalho entre as gerações. Quando as empresas falham em criar um ambiente inclusivo e respeitoso, que valorize a diversidade de perspectivas e experiências, elas não só perpetuam esses conflitos, como também perpetuam problemas mais profundos de assédio, preconceito e racismo.
Alguns desses problemas mudam de nome, mas continuam sendo desafios urgentes, como o racismo ambiental, que afeta de maneira desproporcional comunidades de minorias.

Imagem: Aliza Nisenbaum
A estrutura atual das empresas, muitas vezes obcecada por resultados financeiros e métricas de curto prazo, falha em considerar a complexidade das relações humanas e a importância de um ambiente de trabalho harmonioso. Políticas internas são frequentemente superficiais, mais focadas em criar uma imagem positiva do que em promover mudanças reais e significativas. As iniciativas de diversidade e inclusão, por exemplo, muitas vezes não passam de declarações vazias que não se traduzem em ações concretas e efetivas. Este cenário cria um terreno fértil para conflitos geracionais, onde as diferentes expectativas e modos de trabalho são ignorados ou mal geridos.
Além disso, a falta de treinamento adequado e sensibilidade em relação às questões intergeracionais agrava o problema. As empresas não investem o suficiente em programas que promovam o entendimento e a colaboração entre as diferentes faixas etárias de seus colaboradores. A consequência é um ambiente de trabalho onde as gerações mais jovens se sentem desvalorizadas e as gerações mais antigas se sentem obsoletas, gerando frustração e desmotivação de ambos os lados.
Para agravar a situação, os problemas estruturais, como assédio, preconceito e racismo, são muitas vezes ignorados ou minimizados. As políticas contra essas práticas são frequentemente insuficientes e mal implementadas, criando um ambiente onde tais comportamentos podem persistir sem consequências reais. A falta de ação eficaz não apenas prejudica as vítimas diretas, mas também afeta negativamente o clima organizacional como um todo, perpetuando um ciclo de desconfiança e desrespeito.

Ilustração: Bruno Miranda
Não se trata apenas de implementar políticas superficiais, mas de promover uma transformação cultural genuína que reconheça e valorize a diversidade geracional, combatendo ativamente todas as formas de discriminação.
Historicamente, o Brasil passou de colônia a Estado independente e, ao adentrar o século XXI, muitos previram a extinção de diversas formas culturais próprias ou a completa assimilação dessas culturas pela sociedade dominante. No entanto, contrariando essas previsões, muitos grupos culturais demonstraram uma notável resistência e preservação de suas formas próprias de organização e gestão de vida.
Desmantelar essas estruturas autônomas, promovendo uma integração forçada ao conjunto da sociedade brasileira. Esse processo de assimilação pode ser visto como uma continuação das práticas colonizadoras, onde a diversidade cultural e a autodeterminação de diferentes grupos são continuamente ameaçadas.
Comments